sábado, 30 de abril de 2011

O Inverno Dói

Terminou a aula. Me encaminhei à saída do prédio. Quando coloquei o nariz pra fora da porta, congelei. Estava um frio danado. Ele estava lá fora (o frio) e ele estava aqui dentro (o frio).

O inverno é a estação do ano de que mais gosto. Ele cheira a aconchego e é, a meu ver, o porto seguro dos sofredores. Parece que se sofre apenas no inverno. No verão, se nos incomodamos, vamos à praia; se estamos sufocando, tomamos cerveja num bar na calçada; se esmorecemos, andamos livres com poucas roupas e quase de pés descalços. Mas no inverno, não. O inverno existe para chorarmos quando sufocamos, claro, embaixo das cobertas; nos agasalhar quando nos sentimos despidos pelos dissabores da vida, nos tapamos até a cabeça para disfarçar. O fogão à lenha nos protege do frio e de quem nos quer enxovalhar. Enfim, o frio é o protetor dos sofredores. Assim, nos esquentamos para driblar o frio que está lá fora e o frio que está “aqui” dentro.

Uma amiga dos tempos de adolescência dizia, você gosta do frio porque tem cama quente. Não, eu gosto do frio porque no frio me sinto mais acariciada. Será que posso não me sentir culpada por isso? Culpa! Essa educação está tão introjetada que qualquer atitude que foge aos parâmetros nos faz sentir culpados!

Mas, voltemos. Há aspectos não tão líricos do inverno, mas também tão líricos! No frio parece que estamos mais próximos dos amigos, fazemos chocolate quente e nos postamos pertinhos uns dos outros, num intuito de simplesmente conviver. Fazemos comidinhas como feijoada, mocotó, fondue, tudo acompanhado por vinho gostoso, que também nos faz sentir aconchegados, protegidos (de nós mesmos?).

O inverno. Tantas histórias “invernais”! Tantos motivos. Tantas desculpas. Tantas consequências! Mas nosso inverno não é tão rigoroso. Agora, as pessoas, sim. Algumas mais. Há pessoas que tanto faz se é inverno, verão, outono ou primavera, elas são sempre geladas, não têm sensibilidade e não vai existir nada que as faça perceber o que há em sua volta. Há aquela criatura que só enxerga a si mesma e, em enxergando a si mesma, não consegue perceber que há o belo e suas nuances em outrem.

Terminou a aula. Me encaminhei à saída do prédio. Quando coloquei o nariz pra fora da porta, congelei. Estava um frio danado. Ele estava lá fora (o frio) e ele estava aqui dentro (o frio).

O nariz estava gelado, os pés estavam gelados, e também o coração!

2 comentários:

  1. Acho que é por isso que não gosto do inverno...ele dói, eu não tinha me dado conta disso.

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  2. Eu também gosto do inverno, também me sinto acariada e porque não dizer acalentada! Gosto de ficar admirando em frente a lareira as diversas formas do fogo. Aliás me intriga como a dinâmica do fogo me acalma. A impressão que tenho, é que esse inverno existe para abrandar os sentimentos "calóricos", nos revigorar. Mas o "inverno interno" em que vivem muitas pessoas, esse eu dispenso!

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