sábado, 20 de fevereiro de 2010

O chorinho


Noite quente. Naquele lugar muitas pessoas brancas e pretas. Há tempos não via uma cidade com tantos negros. Mão branca, mão preta. Mão na mão. Corpo branco. Corpo preto. Vários corpos suados se mexiam num frenesi constante, num continuum.
A música era harmoniosa, cadenciada. O choro se juntava com a melancolia dos tons e as lágrimas que escorriam dos corpos brancos e pretos.
Eu observava como se nunca, um dia, tivesse feito parte daquele lugar.
O choro que todos dançavam com entusiasmo, não era choro, era festa, era o choro da festa. O choro que eu sentia enquanto ouvia o choro, era um lamento. Lamento por não estar mais chorando aquele chorinho. Lamento por não estar mais dançando aquele chorinho. E aquilo continuou, se arrastou a noite toda.
Corpos sensuais se diziam, se falavam. Se diziam coisas que não se podia ouvir; se falavam coisas que não podiam deixar-se ouvir.
Naquele lugar, naquele calor, os corpos brancos e pretos choravam o choro da liberdade. Liberdade de se ser o que é. Liberdade de dizer o que se quer. Aquela que só se tem quando se chora.
É lindo ver o branco e o preto chorando em harmonia!