quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Madeira homem

Madeira...

Madeira vem da árvore

Madeira é árvore morta… triste árvore!

Árvore morta, árvore torta, tora…

Madeira é forte como a árvore… tora…

Árvore é forte como o homem…

Madeira homem…

Homem é forte como tora…

Ora!

Homem forte… árvore triste…

Madeira homem!

Se homem forte não existisse

Caso o caule enfraquecesse.

Que seria do homem nessa arte?

Homem triste?

Madeira homem!

Se homem forte não existisse

Caso as folhas enfraquecessem

Que seria do homem nessa arte?

Homem triste?

Madeira homem!

Mas homem forte existe

Pois, o caule e as folhas permanecem fortes.

O que é o homem nessa arte?

Homem triste?

Não!!! Homem forte!

Madeira homem!!!

Reencontro

3, 4, 5 anos, não sei bem. Certeza tenho de que já fazia mais de 3 anos que não o via. Muitas expectativas para aquele dia. Entretanto, como dizer tantas coisas em apenas 2 horas. Mas, teria que ser. A vida não nos proporcionara mais que 2 horas. O que se pode dizer neste ínterim? Planejei: falarei da profissão; falarei dos filhos, afinal, dois filhos, poderia falar sobre cada um, a cada hora; falarei do passado; falarei do presente; não, não falarei nada, o deixarei falar das suas coisas, da vida que está levando, de sua profissão, de seus filhos, de seu amor… afinal, sempre gostei de ouvi-lo. Muitas expectativas para àquelas 2 horas, e nada mais que isso. Por fim, o reencontro. Um abraço, um olhar, muitas palavras nervosas tentando se conectarem com coisas do passado… Muita saudade: vidas atribuladas procurando explicações palpáveis onde não há. Conversas sobre pessoas e situações pelas quais passamos que nos fizeram rir muito. Riso que há muito não exteriorizava. Afinal, minha linguagem, minha vida, minha gente. E de gente ele tem muito. Parecia que estava compreendendo perfeitamente aquele riso solto que aqui não consigo dar. Parecia que estava entendendo minhas palavras sem nexo para tentar esconder um pouco de mim. Entretanto, receio que, diante das palavras sem nexo, me despi. Me despi em meu silêncio interior, demonstrando toda a tristeza de não poder jamais mudar os fatos. Diante de mim aquele homem tão terno, tão sensível, que parecia estar sentindo o mesmo que eu. Pensei: como mudamos! Como o tempo passou! Envelhecemos! Amadurecemos! Enfim, não somos mais os mesmos. A essência permanece, mas deixamos de ser alguma coisa, que não sei bem explicar. Num olhar triste, ele junta o passado com o presente para tentar criar um futuro melhor; busca fatos passados e tenta, milagrosamente, não desconectá-los de nós mesmos. Isso parece deixá-lo mais tranqüilo. Eu não consigo juntar nada a nada… apenas, sentir. E meu sentimento é de tristeza, melancolia… cansaço. Minha vida é feita de muitas perdas, então, procuro sempre esquecer. Entretanto, ele estava ali, cheio de emoção, cheio de humildade de ser, e em mim transbordava sentimentos reprimidos há muito. E estava feliz por isso: afinal, estou sentindo, estou viva. Eu o olhava de modo a querer sugar tudo o que podia me dar naquele momento. Queria sentir mais o que estava sentindo, afinal eu havia descoberto que estava viva… queria olhá-lo mais, abraçá-lo mais, ouvi-lo mais… queria que aquele êxtase permanecesse, num misto de sensações controláveis apenas pela experiência. Mas, estava na hora de partir. Novamente partir. Nos despedimos. Lembro-me de nos abraçarmos fraternalmente e meu coração disparar sem que eu conseguisse dizer palavras efusivas. Combinamos nos encontrar novamente. Rapidamente, planejamos reencontros familiares. Meu coração e meu intelecto continuavam a me trair. Queria dizer mais alguma coisa… mas não disse, não consegui. Dei às costas a ele… fui embora. Não queria olhar para trás. Acho que meu rosto também me trairia. Pensei em ver o avião partir. Bobagem!!! Então, numa catarse incontrolável, chorei. As lágrimas rolaram envergonhadas diante das pessoas que ali passavam. Queria voltar e dizer algo a mais… não tive coragem. Lembro-me de ainda, nas escadas, voltar o olhar e enxergá-lo ao longe. Esse longe que leva embora tudo que quero, tudo que sinto, tudo que amo. Esse longe que faz com que perceba que a vida é o agora e que quero criar raízes em terras inférteis. A Terra não é fértil. Esse longe que me faz tão solitária. Esse longe que já me fez perder coisas e pessoas. As coisas, as recupero; as pessoas permanecerão no meu íntimo, mas ao longe. Esse longe, talvez seja o desígnio do Velho para comigo; talvez seja o meu desígnio para comigo, pois, longe é o lugar onde ninguém poderá me descobrir. Pois, em me descobrindo, poderão encontrar outra pessoa… nesse longe… nesse longe… esse longe onde ele se encontra… no reencontro… no olhar triste… esse longe… e deverá permanecer longe, o atingível longe… o inatingível longe…

Claras Evidências

A vela estava acesa, atrás de uma cortina, no altar da minha casa. Foram muitas as casas em que moramos. Todas elas tinham aquele altar com alguns santos. Lembro-me muito bem do preto-velho sentado num toco e fumando cachimbo. Acho que tinha 6 anos. Recordo aqui um episódio que me incomodava muito. Eles estavam acostumados e eu não entendia o que se passava, sabia que não queria que aquilo se tornasse um hábito. Mas, passei a vida sem esquecer.

Minha mãe tinha um pequeno altar naquela casa e nas outras também. Mudávamos sempre de casa e de cidade. Havia também um retrato de Alan Kardec e outro de Bezerra de Menezes. Esses me acompanharam enquanto morei na casa dos meus pais.

Minha mãe acendia uma vela cada vez que minha irmã tinha uma crise, chamada epilepsia. E ela as tinha seguidamente, regularmente. O mais estranho é que ninguém me explicava nada, apenas que eu devia ficar quieta para a doente poder descansar. Todos ficávamos exaustos após aqueles episódios epiléticos e minha mãe, acho que com o intuito de nos acalmar, acendia uma vela no altar atrás da cortina. O que via era uma grande luz que invadia o quarto, invadia a casa e penetrava na minha cabeça, transformando pensamentos de criança em verdadeiras histórias de terror. Um medo horroroso se apossava de mim a cada vela acesa. A minha visão era somente um ambiente nebuloso entre dores, angústias, inseguranças e uma vontade louca de que as coisas fossem diferentes. Nunca houve uma saída para aquilo, senão olhar para a luz e encontrar, através dela, o fim do túnel. Talvez por isso minha mãe sempre mantinha uma acesa. Uma vela tem muitos significados. Naquele momento poderia ser o caminho do meio, ou seja, nem paz, nem desarmonia. Apenas olhos fixos naquela luz, desejando sermos encaminhados a outro lugar. Deixar de sentir aquela dor, deixar de sofrer aquele sofrimento. No altar, ainda queima a vela da esperança. Aquela acesa com a certeza de que algo vai mudar naquele cenário.

Passa a noite. Amanhece. Aquele pássaro cisma em cantar às 5h da manhã com a ajuda insistente do meu pai. Canário chato! Parece que fica debochando da nossa cara depois do terror da madrugada. Mas o pai sempre faz das suas e adora ironizar a vida. O canário era tão amigo dele, que quando morreu o levou junto no dia seguinte. Cantar só para nós deveria ser mais chato ainda.

Meus sentimentos se confundem, pois nada me conforta. Vejo nova vela no altar junto com a claridade do dia. Meus pensamentos se atravessam: a vela é acesa depois do episódio, ou antes dele? Isso quer dizer que vai acontecer o episódio novamente?

Amenidades linguísticas

Estarei aqui, quase sempre, com a intenção de conversar com o leitor sobre amenidades linguísticas. Considero amenidades linguísticas tudo aquilo que é escrito com o objetivo de amenizar o dia a dia, a rotina, o cotidiano. É redundante? Claro que é... mas é para dar ênfase ou sentido. Que, aliás, aqui procuraremos muito, o sentido para as palavras escritas.