quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Reencontro

3, 4, 5 anos, não sei bem. Certeza tenho de que já fazia mais de 3 anos que não o via. Muitas expectativas para aquele dia. Entretanto, como dizer tantas coisas em apenas 2 horas. Mas, teria que ser. A vida não nos proporcionara mais que 2 horas. O que se pode dizer neste ínterim? Planejei: falarei da profissão; falarei dos filhos, afinal, dois filhos, poderia falar sobre cada um, a cada hora; falarei do passado; falarei do presente; não, não falarei nada, o deixarei falar das suas coisas, da vida que está levando, de sua profissão, de seus filhos, de seu amor… afinal, sempre gostei de ouvi-lo. Muitas expectativas para àquelas 2 horas, e nada mais que isso. Por fim, o reencontro. Um abraço, um olhar, muitas palavras nervosas tentando se conectarem com coisas do passado… Muita saudade: vidas atribuladas procurando explicações palpáveis onde não há. Conversas sobre pessoas e situações pelas quais passamos que nos fizeram rir muito. Riso que há muito não exteriorizava. Afinal, minha linguagem, minha vida, minha gente. E de gente ele tem muito. Parecia que estava compreendendo perfeitamente aquele riso solto que aqui não consigo dar. Parecia que estava entendendo minhas palavras sem nexo para tentar esconder um pouco de mim. Entretanto, receio que, diante das palavras sem nexo, me despi. Me despi em meu silêncio interior, demonstrando toda a tristeza de não poder jamais mudar os fatos. Diante de mim aquele homem tão terno, tão sensível, que parecia estar sentindo o mesmo que eu. Pensei: como mudamos! Como o tempo passou! Envelhecemos! Amadurecemos! Enfim, não somos mais os mesmos. A essência permanece, mas deixamos de ser alguma coisa, que não sei bem explicar. Num olhar triste, ele junta o passado com o presente para tentar criar um futuro melhor; busca fatos passados e tenta, milagrosamente, não desconectá-los de nós mesmos. Isso parece deixá-lo mais tranqüilo. Eu não consigo juntar nada a nada… apenas, sentir. E meu sentimento é de tristeza, melancolia… cansaço. Minha vida é feita de muitas perdas, então, procuro sempre esquecer. Entretanto, ele estava ali, cheio de emoção, cheio de humildade de ser, e em mim transbordava sentimentos reprimidos há muito. E estava feliz por isso: afinal, estou sentindo, estou viva. Eu o olhava de modo a querer sugar tudo o que podia me dar naquele momento. Queria sentir mais o que estava sentindo, afinal eu havia descoberto que estava viva… queria olhá-lo mais, abraçá-lo mais, ouvi-lo mais… queria que aquele êxtase permanecesse, num misto de sensações controláveis apenas pela experiência. Mas, estava na hora de partir. Novamente partir. Nos despedimos. Lembro-me de nos abraçarmos fraternalmente e meu coração disparar sem que eu conseguisse dizer palavras efusivas. Combinamos nos encontrar novamente. Rapidamente, planejamos reencontros familiares. Meu coração e meu intelecto continuavam a me trair. Queria dizer mais alguma coisa… mas não disse, não consegui. Dei às costas a ele… fui embora. Não queria olhar para trás. Acho que meu rosto também me trairia. Pensei em ver o avião partir. Bobagem!!! Então, numa catarse incontrolável, chorei. As lágrimas rolaram envergonhadas diante das pessoas que ali passavam. Queria voltar e dizer algo a mais… não tive coragem. Lembro-me de ainda, nas escadas, voltar o olhar e enxergá-lo ao longe. Esse longe que leva embora tudo que quero, tudo que sinto, tudo que amo. Esse longe que faz com que perceba que a vida é o agora e que quero criar raízes em terras inférteis. A Terra não é fértil. Esse longe que me faz tão solitária. Esse longe que já me fez perder coisas e pessoas. As coisas, as recupero; as pessoas permanecerão no meu íntimo, mas ao longe. Esse longe, talvez seja o desígnio do Velho para comigo; talvez seja o meu desígnio para comigo, pois, longe é o lugar onde ninguém poderá me descobrir. Pois, em me descobrindo, poderão encontrar outra pessoa… nesse longe… nesse longe… esse longe onde ele se encontra… no reencontro… no olhar triste… esse longe… e deverá permanecer longe, o atingível longe… o inatingível longe…

Um comentário:

  1. Nossa! Que intenso o encontro! Eu acredito que sentimentos sufocados e amores mal resolvidos são fantasmas que nunca param de atormentar a alma da gente. Melhor sofrer por dizer algo e não ouvir o que esperava, do que guardar para si um sentimento tão grande que sufoca a gente.
    Beijo!
    Débora

    ResponderExcluir